domingo, 23 de janeiro de 2022

Impactos Sociais e Ambientais na Indústria Têxtil


 #QUEMFEZMINHASROUPAS

Esta é a frase de propaganda de conscientização da  organização  Fashion Revolution, criada  após o desabamento do edifício Rana Plaza, em Bangladesh. No local funcionavam  fábricas de confecção de roupas, a tragédia que ocorreu em 2013, causou a morte de mais de 1.100 trabalhadores e deixou 2.500 feridos. A organização  realiza ações em prol da transparência da cadeia de produção, cumprimento de leis que garantam boas condições de trabalho, remuneração justa, e sustentabilidade no mundo da moda.
No Rana Plaza havia crianças e jovens menores de idade, e a jornada de trabalho era em média 16 horas por dia. Antes do desabamento já se percebiam rupturas na estrutura do prédio, mas a ordem era para não interromper a produção, relatos da realidade das fábricas foram expostos no documentário THE TRUE COST, (2015). Segundo a Organização Mundial do Comércio (OMC), Bangladesh é o segundo maior exportador de vestuário do mundo, com um volume de US$ 28 bilhões em transações, 85% da mão de obra é formada por mulheres, e o salário é inferior a US$ 3 por dia.

Com o desenvolvimento da globalização, e a produção cada vez mais acelerada, os empresários buscam mão de obra barata em  países como Bangladesh, China, Camboja, Etiópia, Indonésia, Taiwan, Vietnã, etc. Normalmente são países populosos em que  há muita competição por postos de trabalho, condições sociais vulneráveis, e há fragilidade nas leis trabalhistas; com falta de eficiência na garantia dos direitos do trabalhador.

Em 2014, manifestantes que eram funcionários do setor têxtil em Phnom Penh, capital do Camboja, pediam aumento do salário mínimo para US$ 160 mensais, enquanto o governo oferecia US$ 95. A polícia disparou munição real contra os trabalhadores, provocando três mortes.


Na Índia, meninas menores de idade são sujeitas ao sistema “Sumangali”, um modo tradicional de exploração de trabalho em que  crianças de famílias de casta mais baixa, com poucas posses, são recrutadas para trabalhar em fábricas têxteis. Intermediários negociam com os pais com a promessa que ao cumprirem o período do contrato de trabalho, as meninas receberão uma boa quantia em dinheiro que poderá  ser usado para pagar o seu dote de casamento.  Há relatos de que no período de descanso as meninas são confinadas em alojamentos e vigiadas constantemente.
 

O Instituto Australiano de Política Estratégica - ASPI, divulgou um relatório  em que denuncia o governo chinês de facilitar a transferência em massa de uigures e outros cidadãos de minorias étnicas da região oeste de Xinjiang, para fábricas em todo o país. Sob investigações que  sugerem condições de trabalho forçado, as fábricas estão nas cadeias de suprimentos de pelo menos 82 marcas globais  nos setores de tecnologia, vestuário e automotivo, incluindo Apple, BMW, Gap, Huawei, Nike, Samsung, Sony e Volkswagen.

A escravidão moderna está muito ligada ao estímulo ao consumismo e  a competição exacerbada entre as empresas, na China houve um protesto contra os “9.9-6”: trabalho das 9h às 21h, seis dias por semana, conforme relata esta matéria do jornal El País.

Global Slavery Index é uma organização que realiza pesquisas sobre a escravidão moderna em vários países. Em 2016, a organização estimou em um relatório que exista aproximadamente 40,3 milhões de pessoas escravizadas, em sua maioria nos continentes da Ásia e África.


O Brasil segundo a  Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção - ABIT,   está entre os cinco maiores produtores e consumidores de denim do mundo e entre os quatro maiores produtores de malhas do mundo,  85% do vestuário consumido no país é produzido por fábricas instaladas em território nacional. Entre os principais polos da indústria têxtil, destacam os do Ceará, do Agreste Pernambucano, do Vale do Itajaí, no estado de Santa Catarina, e o Polo de Americana, em São Paulo.  

A Repórter Brasil reuniu nesta matéria diversas denúncias de exploração de trabalho na indústria da moda no país. O Projeto de Lei 4330/2004 que prevê a terceirização para qualquer atividade; sancionado em 2017, ainda gera polêmica. Os questionamentos são quanto a possibilidade do agravamento da precarização do trabalho.

A revista Guia do Estudante indica 5 documentários sobre Trabalho Escravo no século 21.

O aplicativo Moda Livre foi criado para que o consumidor  tenha acesso a informação de rastreio da cadeia produtiva de marcas de roupas,  se estas estão envolvidas em acusações de uso de mão de obra escrava, e quais providências estão sendo tomadas.


MEIO AMBIENTE

O Mar de Aral na Ásia central já foi o quarto maior lago do mundo nos anos 1960, mas com o tempo  foi desaparecendo, pois os rios que desaguavam nele foram sendo desviados para irrigar plantações de algodão na região do Uzbequistão, e o aumento da concentração de poluentes e da salinidade resultou na perda da biodiversidade. Hoje o lago contém 10% da sua extensão original, o Mar do Norte de Aral no Cazaquistão, está sendo revitalizado. Já o Mar do Sul de Aral no Uzbequistão, está praticamente seco. 

River Blue é um documentário canadense que narra uma jornada ao redor do mundo pelo  conservacionista Mark Angelo, no qual ele documentou os impactos da poluição da indústria global da moda no processo de tingimento de tecidos, principalmente o jeans e curtumes de couro.

 Tecidos como o poliéster, nylon (poliamida), e acrílico, durante a sua lavagem liberam partículas de microplástico que poluem corpos hídricos, podendo ir parar nos oceanos. São necessários mais de 200 anos para que a fibra de poliéster se decomponha. Apesar de estar ocorrendo um avanço gradual na reciclagem de garrafas PET, na indústria têxtil a mistura do poliéster com outras fibras dificulta o processo de separação para reciclagem, faltam tecnologias de separação de fibras mistas. 

A viscose é uma fibra artificial produzida a partir da celulose, para a extração usa-se madeira de árvores de rápido crescimento, ou sementes de algodão. O uso de produtos químicos, principalmente soda cáustica, ácido sulfúrico e dissulfeto de carbono, é o aspecto ambiental mais questionado do processo de produção da viscose.  

Em um levantamento feito pela ONU, estima-se que se perde cerca de US$500 bilhões com o descarte de roupas que vão para os aterros e lixões e não são recicladas.

A reportagem da Agence France-Presse - AFP, mostra as montanhas de roupas que acabam em uma região chamada de Alto Hospicio, no norte do Chile. As peças produzidas na China e na Índia são enviadas para  lojas da América do Norte, Ásia e Europa, e as que  não são compradas são exportadas para serem revendidas em outros países da América Latina. São cerca de 59000 toneladas por ano, e destas 39000 toneladas vão para aterros clandestinos. Confira o vídeo da reportagem aqui.

 Gana na África  também enfrenta este problema de lixões e aterros sobrecarregados de roupas que são enviadas para doação e revenda de segunda mão.   Vídeo de reportagem da BBC.


UNRAVEL  documentário sobre a indústria indiana de reciclagem de roupas. Assista aqui!

O livro Cradle to Cradle - Do berço ao berço,  propõe Criar e Reciclar Ilimitadamente, através de um modelo de indústria onde não há resíduos, tudo pode ser reutilizado.


Lembrando que quando você tiver vontade de comprar alguma coisa, se dedicar um pouquinho do seu tempo para fazer uma busca de um canal de informação sobre locais e eventos que praticam a economia circular e a responsabilidade social, através do reaproveitamento de materiais e do uso de matérias primas mais ecológicas, muito provável encontrará algo alternativo e vai ter a sensação maravilhosa de estar fortalecendo e se integrando a esse movimento de verdade.























 






















 


 







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